sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Labia / Esperma

Havia um homem que fornecia esperma para clínicas de fertilização. Não fazia isso por altruismo, mas por necessidade. O fluido vendido pela qualidade do doador.  Ao preecher o questionário, vinha a hora de engambelar a moça. Seguindo a lógica do perfume, caprichava na exibição do frasco. O pai de origem alemã, a mãe, relações internacionais. Arranhava, oui, o francês. Natação desde criança. Turbinava a ficha para valorizar o produto. Se bem cotado pela técnica, recebia mais. Ser jovem, bonito, saudável, não mais o suficiente. Os dotes exigidos na triagem, cada vez maiores. A mulher, como somelier de sêmen, só faltava provar. O dinheiro era bom, valia a pena. Menos de dez minutos, recebia em euros. O visto vencendo, onde arranjar em espécie? Já tinha dado o sangue naquele país, aliás vendido, e nada. Para porra do esperma, pagavam mais. Quanto custa um green card em ml? Me fale um pouco mais sobre você, perguntava a técnica, preechendo os dados. Concluindo Direto, em Berlim? O cartaz na parede: "Povoando o mundo, realizando sonhos." Ele em verdade, não mentia. Era um cara duro, cada qual oferece o que tem. Seu talento para farsa vinha da convicção. Se a mãe era cafetina, por que não um pai alemão? Suas relações, via de regra, não deixavam de ser internas e internacionais. Na pensão onde se hospedava, aprendera com os haitianos os termos mais chulos em francês. Expulso da faculdade falsificando TCCs. Nas enchentes da quebrada, ou se aprende a nadar desde cedo ou se morre afogado. As costas largas, o sorriso sexy, quem podia duvidar? Ela ia checar as redes sociais, esmiuçar o seu histórico em tempos de perfis fakes,  pós-verdade, teoria da conspiração? Ele
Se tiver prazer no que faz, nunca terá que trabalhar na vida. 

Morava numa pensão de moços, desde que descobriram q vendia ttcs na faculdade. A grana curta q recebia com atendente numa academia não dava conta do pf diário. Era jovem, alto, belo e saudável, mas não o suficiente para valorizar seu produto. Por isso, mais q mentir no questionário, reinventou se. Escondia a calvicie de gerações, o câncer dos avós, a hemofilia. Se quisessem, eles que examinassem seu dna. Sempre lera bastante, no buraco de onde saira, lhe dera um vocabulário q permitia flanar na sociedade. A imaginacao advinda desde o abandono do pai, fizera dele um bom farsante. Sabia assimilar com velocidade, era mestre na arte de simular. Turbinou o currículo acadêmico nas redes. Seu xxx era invejável, quase um CO de multinacional. Na coleta dispensava o porno usual. A geneticista desconfiada da lábia. 

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