Havia um homem que sofria de narcolepsia. Medo, entusiasmo, amor, o que lhe descompassasse o coração, nocauteava-o imediatamente violentíssimo sono que podia durar minutos, horas.
Tornou-se um sujeito recluso, metódico e de hábitos arraigados. Ora, labora, repetia. Traduzia livros técnicos: purificadores de água, robôs aspiradores, aquecedores elétricos. Os arquivos chegavam em pdf editável e devolvidos na rede. Vivia nesta bolha
de modo q sua misantropia antecipava esse despudor de contato q a covid viera condenar. Antes, sua rotina consistia nas
Um rol de especialistas e o veredito: o hipotálamo falhava no processar das emoções. A vida social desde cedo em escombros, a decisão acertada de exilar-se nos 75m2 legado pelos pais. O ar alheio, distante, indiferente, adquirido ao longo dos anos no exercício da apatia. O horror ao contato, anterior ao coronavirus. A descoberta reconfortante do estoicismo necessário à sua sobrevivência invitro. Tudo se perturbou com a mudança do casal para o apartamento ao lado. O sofá, as estranhas luminárias, a mesinha de centro, ele viu desfilar pelo olho mágico. O sujeito grande, todo braços e músculos. Ela, pequena, de franhinha sexy; pareciam participantes de reality show. Assistiu-os desfilar diante pelo olho mágico. Giraram a chave. Bateram a porta e se iniciou seu inferno pessoal.
Se antes fora perturbado pelo abrupto período de obras, marteladas, raspagem de taco, papel de parede; instalados, não durou a ilusão de um futuro silêncio. Ledo engano, as brigas começaram à uma, e espantou por tamanha violência.
Apaziguados.
Não misantropia estoicismo reclusão.
Espolio
de julgava viver num looping temporal. O inicio se dera com a desratização, o salto da janela no prédio em frente, o sumiço do anão, a locação do apartamento rente ao seu, despejando a paz. Isso começara pouco depois da Covid que confinara quase todos os moradores do seu prédio. Não que a quarentena tivesse alterado de algum modo sua rotina.
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