Havia um homem que há 67 dias
conversava com plantas. Acima do peso, era cardíaco, a asma não ajudava. Antes,
a quitinete na Liberdade só servia para dormir. O espírito da amada esposa
assombrava suas noites no apartamento antigo. Levado ao psiquiatra pela filha
única, o tarja-preta a exorcizara. Os bonsais, a rosa de pedra e o lírio da paz
foram presentes da filha antes da mudança para o Japão. Nem sempre conseguia conexão
na rede antiga para falar com ela, nem sabia sintonizar a rádio Nikkey. Sentia
falta da praça, dos companheiros de Go, de comer doce de feijão. Conversar com
as plantas foi conselho da filha. Na última vez que se falaram, há um mês, ela
disfarçava a tosse atrás da máscara salmão. Um rapaz do 171 se ofereceu para
comprar Ramen e até hoje não voltou. Com ele, foi-se a receita dos comprimidos
que sumiam na palma da mão. Desde que acordou esta manhã não consegue parar de
chorar. Tentou consolar-se com as plantas, mas elas lhe dizem coisas duras demais.
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