Havia uma mulher que encontrou um
caroço no seio. A mãe havia morrido de câncer assim como a tia que a criara.
Vivia sozinha num quarto-e-cozinha pago com o trabalho num RH. O namorado vinha
dormir com ela do sábado para o domingo. Às quartas, quintas e finais de semana,
nos dois primeiros anos de namoro. Às quintas e sábados, após o noivado, no duro
ano do aborto. Agora cogitava quinzenar, por causa do curso de TI, que ela pagava
metade. Não era um homem bonito, tampouco ela, mas faziam um belo casal. Era apaixonada pelas mãos dele, que eram
grandes, fortes, firmes, na medida para abarcar seus seios. Ele amava seus
seios, que eram grandes, fortes, firmes feito mãos. Ela os sonhara ainda
maiores, amamentando sem miséria o filho adiado que não morreria de câncer. Tinha
32 anos, esse noivado de sete anos, esse espelho em que se mira, a semente no
seio, a sede de maternidade. Se grávida até agosto, o filho nasceria em Áries,
primeiro neto de Graça. Calculou o espanto, a vergonha, a censura da sogra
batista, a reparação para dali a dois meses da concepção em pecado, a entrega
das chaves. A licença maternidade seria emendada com as férias. Convinha
antecipar o restauro dos caninos. Voltaria amanhã mesmo o cabelo ao castanho
natural. Amanhã não, no domingo, depois deste sábado quando Moisés conceberia
Moisés: ele amava o louro falso do seu cabelo, longo, sem corte, tanto quanto
seus seios, por enquanto intactos.
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